Parafraseando o poeta Vinícius de Moraes, começo esta história. O ano era 2003. Ninguém jamais poderia imaginar que naquele ano, quando eu contava apenas 9 anos de idade, seria testemunha de uma das mais belas histórias de amor que já vi, que já presenciei. Uma história de idas e vindas, de altos e baixos, mas de muito amor, pois sobrevive até hoje. Vamos a ela.
Numa segunda-feira de abril daquele ano, meu tio começou a ensinar em Riachão do Poço. Quem poderia imaginar que seria naquela terrinha que ele encontraria a sua amada? Pois foi. Havia uma garota chamada Marciana que estudava na Escola João Ferreira Alves. Era uma menina danada: Todos diziam por uma boca só, mas tinha um carisma tão grande que conquistava a todos e, por isso, era alvo também de muitas críticas por parte de algumas meninas invejosas. Estas diziam: "Esta tal de Marciana só quer ser amiga de todos, não é? Vive fazendo amizades com os professores e isso deve facilitar as notas dela. Talvez seja por isso que ela só tira notas boas!"
Mesmo com tamanha maldade por parte de invejosas, a jovem Marciana não se deixava abater. Sempre dava a volta por cima, de modo que, quando viu subir as escadas o novo professor de inglês, sentiu uma emoção forte, tão forte que quase seu coração pulou pela boca! Nunca tivera sentido isso antes. A aproximação com os outros professores era puramente de aluna e professor. Mas agora o que sentia era algo que jamais sentira. Será que esse novo professor de Sapé se tornaria o seu amado? O que será que ele tinha que fez bater forte o coração da criativa menina? Chamo menina, mas a jovem já tinha seus 17 anos, é que era tão delicada, tão carismática que deve também ter causado em meu tio uma emoção forte. Os olhares de Marciana para o novo professor de inglês não eram comuns. Logo meu tio começou a perceber que a moça não apenas o via como professor, mas como homem. Tudo que ele propunha fazer em termos de projetos culturais para a escola, lá estava ela, colaborando com tudo. Uma vez ele inventou um Leilão Popular de Obras de Arte, com artesanatos produzidos pelos próprios alunos. Imagine, meu caro leitor, quem estava disposta a produzir boa parte das obras a serem leiloadas? Quem? Marciana. Ela viu em meu tio algo que mexeu profundamente nela. Não sabia o quê, mas sentia esse pulsar mais forte de seus batimentos cardíacos. Nenhum outro professor teve sobre ela tamanho poder de conquista, até porque ela os via como professores, mas com meu tio foi diferente.
Em poucos meses, as colegas invejosas perceberam também a intimidade com que os dois apenas se olhavam. Afinal eles estavam na escola e era preciso respeitar o ambiente escolar. O professor de inglês sempre soube que não se podia misturar as coisas. E ela também. Enquanto estivessem na escola, ele a trataria como aluna. Uma vez fora, na rua, numa praça, na própria casa da moça, eles poderiam conversar melhor e assim iam começando a se entender.
Um dia, em novembro daquele mesmo ano, por ocasião da Festa de Nossa Senhora de Fátima, a padroeira da cidade, os dois foram passear. Decidiram andar de roda gigante. Só não sabiam que lá de cima, vendo a pacata Riachão do alto, o desejo que sempre tiveram se concretizaria: Meu tio olhou o mundo do alto e sentiu a necessidade de beijar. Ela também sentiu. Empolgaram-se e, quando deram por si, já estavam em baixo, no circular da roda gigante. Todos os que aguardavam lá em baixo viram o beijo quente e ardente dos dois apaixonados. Os olhares de uma das invejosas que aguardavam sua vez para subir na roda gigante arregalaram-se. A vontade que ela tinha era sair correndo e gritar para todo mundo que o professor de inglês estava "pegando" uma das alunas do João Ferreira Alves. E foi isso o que deve ter feito, pois não tardou e toda a Riachão já estava sabendo. Tudo o que acontece em cidade pequena logo está na boca do povo.
No outro dia, depois de uma gravação do projeto O RETIRANTE que meu tio produzira em Riachão do Poço, ele e Marciana saíram de mãos dadas. Uma das invejosas bufou de raiva. Eles não estavam nem aí, pois se amavam e não importava o que o mundo pensasse. Só sabiam que não poderiam se escandalizar, e tiveram paciência, enfrentando tudo e todos, com muita humildade e sofrimento. Mas tiveram paciência. Até que, depois de dois anos de espera, em 2005, resolveram se juntar. Ele combinou com ela que fosse para Sapé, em junho, antes do São João e lá, na casa de minha avó, tiveram sua primeira noite de amor. Eu não sei como foi, mas parece que foi bom, pois estão juntos até hoje. "Que seja infinito enquanto dure...!"
Karen Ferreira